Jornalista e fundadora da multiplataforma de conteúdo “A Naturalíssima”, que busca conectar a sustentabilidade e o bem-estar no nosso cotidiano, Marcela Rodrigues compartilha ideais e caminhos para um estilo de vida consciente a partir do consumo responsável.
Diante de uma sociedade voltada para o consumismo e, muitas vezes, até para a obsolescência programada, movimentos que envolvem a transformação de ações e pensamentos que apresentem a sustentabilidade e a minimização dos impactos ambientais como pautas principais passaram a ganhar visibilidade na sociedade.
Nesse contexto, a beleza limpa aparece como uma alternativa para repensarmos em nossos próprios hábitos de consumo, uma vez que conseguimos identificar que é possível fazer escolhas diferentes e adquirir mercadorias de empresas e marcas que trabalham com meios de produção mais ecológicos e sustentáveis.
Em entrevista para a LM, a jornalista e consultora de projetos sustentáveis, Marcela Rodrigues conta sobre como foi transformar seus hábitos e a sua rotina de maneira consciente, destaca as importâncias desses movimentos tanto para o planeta, quanto para nosso próprio senso crítico e autoconhecimento e explica maneiras de aderirmos à estas práticas no dia a dia:
LM:Como foi o processo de mudar seus hábitos de consumo e aderir a prática da beleza consciente e sustentável?
MR: Para mim foi um processo sem nenhum marco muito importante, como tanta gente tem. Por volta de 2011, eu estava realizando meu sonho de trabalhar com revistas e no Estadão com uma rotina super corrida e o próprio trabalho de repórter me levou a algumas práticas que eu já havia tido contato, como horta caseira, receitas de beleza naturais, entre outras coisas novas que se acabavam se conectando.
Foi uma época que eu comecei a meditar, me interessando por um bem-estar que partia do autoconhecimento, e passei a repensar meu estilo de vida. Disso, surgiu a brecha de refletir também sobre o impacto ambiental, então tudo foi se encaixando muito facilmente.
A beleza limpa, eu costumo dizer que foi uma causa antes da sustentabilidade, que é uma área que partilha inúmeras outras englobadas nesta temática como o veganismo, a moda sustentável, entre outros. No fim das contas, você acaba entrando neste mundo por uma causa que chamo de “porta de entrada”, e depois vai se englobando às outras.
Eu particularmente me conectei muito a causa da beleza limpa enquanto eu estudava porque é uma bandeira muito pouco levantada e quase que vista como menos importante se comparada com a alimentação e moda. E, se não tivéssemos ignorado tanto este tema, talvez não apresentasse uma indústria tão poluente e nociva para a sociedade.
LM: Qual é o papel do movimento “Beleza Limpa” para a sociedade? Como podemos incorporar esses hábitos sustentáveis no nosso cotidiano?
MR: O movimento da beleza limpa é muito mais que um mercado, ele propõe uma maneira diferente de se cuidar, mais responsável, sustentável, desacelerada e conectada consigo mesmo.
E no meio do processo, costumo dizer que a “cerejinha” do bolo é ressignificarmos o que é beleza para nós. Porque se apenas trocamos produtos normais pelos ecológicos sem repensarmos também nesses hábitos e padrões, você estará colaborando no processo de redução de impactos, mas não se enquadra nesta revolução que é a beleza limpa.
Quando entramos neste movimento de forma genuína, conseguimos ajudar a quebrar todos esses paradigmas acerca do que é beleza, cuidado e padrões. Eu considero que é um grande desafio pois até as marcas que são consideradas ecológicas, ajudam a reforçar estes aspectos de uma comunicação que não é tão transparente, do estímulo desenfreado ao consumo e muito mais.
Além disso, fala-se muito que o movimento é elitista, mas eu discordo quando a gente pensa na perspectiva de que não é só comprar produtos naturais. As pessoas podem começar refletindo a velocidade e quantidade que elas compram e, na hora das substituições sustentáveis, podemos optar por fazer alguns produtos em casa. Até hoje eu faço meu desodorante, porque há muitos anos atrás não havia tantas ofertas para esta demanda, então eu tive que aprender a fazer e isto me trouxe muito senso crítico, por exemplo. Na prática, o movimento também se enquadra no exercício de ler os rótulos e procurar saber quem está por trás dos produtos nos quesitos políticos, sociais e ambientais.
LM: Para você, quais foram os principais desafios relacionados à criação da “Naturalissima”? Você acredita que, desde o seu lançamento em 2014, a visibilidade dos conteúdos relacionados ao consumo sustentável ganharam força no país?
MR: Eu criei o blog em uma época que queria muito compartilhar as minhas ideias e descobertas de uma vida mais natural, mas eu não tinha espaço nas editorias que trabalhava porque a mídia produz conteúdos relacionados ao que está na moda, e na época eu não sabia se as pessoas gostariam de ler sobre isso ou não, mas apostei na minha intuição porque eram assuntos importantes e que possuíam um propósito para mm.
Então mesmo eu já sendo uma jornalista que tinha passado por alguns veículos importantes e já estava trabalhando há algum tempo, amadureci muito neste caminho. E uma das conclusões que cheguei nestes mais de 10 anos criando conteúdos como jornalista e designer é que a sustentabilidade não está só no que eu falo, mas como eu falo, já que a sustentabilidade também está na comunicação.
Tanto que gosto muito de seguir e tenho como base um conceito chamado de ativismo delicado, que pauta muito uma forma amorosa porém crítica de falar sobre esses assuntos.
Através de seu projeto, Marcela se caracteriza como uma das ativistas pioneiras na disseminação do movimento beleza limpa no país, e suas contribuições para a sociedade são variadas! Além de seu perfil nas redes sociais que apresentam uma imensa quantidade de dicas e ideias para uma rotina mais sustentável, ela também atua como consultora de projetos sustentáveis, auxilia turmas de transição em beleza limpa no curso online “Jornada da Beleza Consciente” e "Beleza Holística" e possuí diversos workshops. Acompanhe-a nas redes sociais para saber mais sobre as alternativas e hábitos de consumo sustentáveis para o dia a dia: https://linktr.ee/ANaturalissima.