Para Fernanda Cabral é possível construir um futuro melhor incentivando ações que gerem mudanças pessoais e coletivas. Ativista e empreendedora, é especialista em Inovação Social pela School of Visual Arts, de Nova York e formada em Comunicação pela UFMG, além de ter experiência na área corporativa e ser multiplicadora da cultura de paz e dinâmicas da convivência pela Palas Athena. Fernanda também é idealizadora do Imagine 2030, um movimento comunitário baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que propõe novas perspectivas sobre sociedade e futuro por meio de escolhas individuais.
A Agenda Global da ONU estabelece metas para um desenvolvimento sustentável, o qual deverá garantir qualidade de vida por meio da redução das desigualdades e garantia de acesso a direitos. Nesse sentido, direcionar as ações a partir de um princípio de reflexão individual pode criar redes de ideias para mudanças. Assim como o projeto Imagine 2030 sugere essa visão para o indivíduo gerar mudanças práticas positivas, a trajetória de Fernanda também passou pelo mesmo trajeto: foi após uma mudança de perspectiva pessoal que ela começou a criar as pontes reais para o projeto. Vem conhecer mais na nossa entrevista da coluna quinzenal #3Perguntas!
LM: Quais as motivações levaram a criação do Imagine2030 e quais impactos ele pretende trazer para a sociedade?
FC: Começou em 2012, quando passei por uma guinada profissional motivada por uma crise pessoal. Na época trabalhava no Banco e sentia que aquilo contribuía mais para aprofundar problemas do que construir o mundo que eu acredito. Eu estava numa crise muito grande sobre quem eu era, o que eu sabia fazer e como eu podia contribuir. Acabei fazendo essa mudança e me lancei como autônoma, empreendedora e ativista.
Desde então faço esse chamado convidando as pessoas a imaginar futuros possíveis, futuros de bem viver, futuros em que todos, todas e todes vivam bem. Na prática, nós ativamos o poder de transformação das pessoas comuns, revelando muitas oportunidades e potencialidades de ação que nós, pessoas, indivíduos, temos nos diferentes contextos em que estamos. O primeiro projeto que lancei era chamado “Imagina na Copa'', ainda em 2012, e um coletivo de pessoas se juntou pra isso. A Copa ia acontecer no Brasil (em 2014), e por isso tínhamos um prazo concreto. Foi um movimento muito legal, trouxemos referências de pessoas que já estavam atuando por todo o Brasil, por causas muito diversas. Também houve criação de metodologias de engajamento e oficinas. Essa vocação foi continuando também num outro projeto com uma ideia semelhante, chamado “Imagina Você”. O foco eram as pessoas promovendo essas transformações, que eram transformações individuais.
Em 2018 eu conheci os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, mas eu não conhecia profundamente a Agenda 2030. E quando eu a conheci fiquei encantada com como ela conectava todas as causas e trazia essa potência de interseccionalidade, cruzando temas como acesso à água com povos indígenas, com questões de gênero, com infância. E todos os temas eram urgentes e organizados de forma ambiciosa, com indicadores. Enfim, me fascinou e fiquei transbordando com esse chamado para o Imagine 2030 e em 2018 demos vida a um novo projeto.
O Imagine 2030 aconteceu com encontros entre pessoas comuns, em espaços de aprendizagem como rodas de conversa, oficinas práticas, espaços de leitura coletiva, encontros presenciais e oficinas de imaginação. Hoje, o Imagine 2030 cada vez mais traz exemplos realmente diversos, brasileiros, com temas decoloniais. Acreditamos que pessoas comuns têm a potencialidade para se apropriar da Agenda 2030, que é nossa! É possível tornar o futuro verdade de forma prática, fazendo coisas além do que o governo ou empresas podem fazer.
LM: Como surgiu a ideia de um Festival para o evento? A comunidade se integra às atividades propostas na programação?
FC: As ações sempre tiveram objetivo de tornar a Agenda 2030 mais conhecida por um olhar mais provocador, contando com a atividade da sociedade civil, que também questiona discursos e falas que não vêm acompanhados de prática. O Festival surgiu nesse contexto. A gente já tinha uma vocação online com a Rede de Antenas com pessoas conectadas à nossa causa. Fazíamos rodas de conversa online com a pandemia, mas isso explodiu, pois chegamos a 260 rodas de conversa em 2020!
Os relatos dessas ações mostram que foi um espaço de muita transformação pessoal, como pessoas que disseram se tornar minimalistas depois de participarem de uma roda de conversa, por exemplo. E o nosso impacto é esse: pessoas que transformam a si mesmas para depois gerar um impacto coletivo.
O Festival Imagine 2030 primeira edição evocou os ODS na prática. Conseguimos remunerar todas as pessoas que participaram, num cenário em que muitas empresas contratavam pessoas em live sem reconhecer a atividade como trabalho, o que é incompatível com o ODS 8, por exemplo. Usamos o modelo do financiamento coletivo e aconteceram shows com artistas como Gean Ramos Pankararu e Brisa Flow, numa época em que a cultura estava muito enfraquecida. Em 2021 já estávamos com uma forma mais coletiva, e focamos em nossa Rede de Antenas, pensando em potencializar impactos pelos ODS por meio de pessoas comuns. Em 2022 as ações foram independentes e colaborativas, realizadas de forma voluntária. Nós não temos patrocinadores ou organizações que financiam, a Rede Imagina é uma associação sem fins lucrativos. Em 2023 queremos ter parcerias para remunerar nossos convidados, com acontecimentos culturais, porque é muito importante. O jeito que desenvolvemos as coisas na prática é muito importante.
A comunidade se integra participando do Festival porque tudo é gratuito e aberto. Mas também é possível se integrar propondo ações. Existe um grupo, um canal no WhatsApp, que também é aberto e gratuito, onde qualquer pessoa pode se conectar. Por lá chegam convites para conversas e encontros. Foi por meio do grupo que também foi amplificado o chamado para as pessoas criarem a programação do Festival em 2022. É uma realização colaborativa muito potente.
LM: Já é possível dizer quais foram as transformações sociais que começaram a acontecer com a Rede de Antenas e os parceiros do movimento? Quais você destaca?
FC: São mudanças de longo prazo. Transformações individuais são as que geram mudanças mais potentes e maravilhosas. O projeto Imagine 2030 segue vivo produzindo conteúdo de aprendizagem. Então já tem coisa pronta, boa, aberta, gratuita, disponível para conhecer, seja no canal do Youtube e no site Imagine2030.com. Vai acontecer a 4ª edição em 2023, em setembro, no aniversário da Agenda 2030. A intenção é que dessa vez a gente tenha também eventos presenciais acontecendo localmente.
Tudo isso é um trabalho que eu tenho muita paixão. Eu falo em primeira pessoa sobre a potência desse impacto porque transformou a minha vida, meu sentimentos de pertencimento e também as minhas escolhas. Então pessoas comuns estão assim, na prática, em ação, espalhadas, construindo futuro radicalmente. Pode parecer que somos poucas, mas só estamos espalhadas.
Para participar da Rede de Antenas e contribuir com transformações positivas alinhadas com a Agenda 2030, é possível entrar no grupo do WhatsApp pelo link
https://chat.whatsapp.com/Jc0IAVaXKl04dkbjkFNRDI