Graduada em Ciências Biológicas pela Unesp e Doutora em Agricultura pela CAUNESP, a Professora Doutora Ana Margarida Caminhas da FCAV (Unesp Jaboticabal) ministra disciplinas para os Cursos de Administração, Ciências Biológicas, Engenharia Agronômica, Medicina Veterinária e Zootecnia e também é a fundadora de uma atividade extensionista de suma importância para a promoção de uma comunidade adepta aos princípios sustentáveis e benefícios trazidos pela educação ambiental. A partir do projeto Cultivaeco, os alunos de escolas municipais de Jaboticabal aprendem sobre a origem dos alimentos e segurança alimentar através da agricultura, onde participam de inúmeras atividades educativas como a contação de histórias, dinâmicas interativas, criação de desenhos, e muito mais.
A ideia do projeto, detalhada em entrevista à LM, surgiu no decorrer de sua formação profissional e atualmente o mesmo é focado na promoção da Agricultura Sustentável, Educação Ambiental, Soberania Alimentar, Universidade e Agenda 2030. “Quando os universitários entram em contato com as crianças das escolas que atendemos, se estabelece a magia da Educação e da Esperança, pois estes universitários têm contato com a realidade e podem colocar em prática aquilo que aprendem na sala de aula”, relata a professora sobre a importância da iniciativa tanto para os alunos, quanto para os estudantes da Instituição Universitária.
No quadro “3 Perguntas” desta semana, Ana Margarida conta sobre os primórdios e ideais existentes durante a idealização do projeto, suas principais áreas de atuação e a importância do mesmo para a comunidade. Confira:
LM: Como foi o processo de idealizar e promover a criação de um projeto de extensão sustentável em uma região extremamente associada à agricultura convencional?
AM: A idealização do Projeto Cultivaeco tem muito a ver com a minha formação e o que fui aprendendo com as comunidades em que atuei em relação à importância da sustentabilidade, como algo vital e fundamental para a qualidade de vida das pessoas e do planeta. Destaco entre estas comunidades, os quilombolas do Vale do Ribeira, em que desenvolvi as ações de pesquisa e extensão de meu mestrado. Daí fui aprendendo que é imprescindível articular as demandas socioambientais da realidade em que estamos à nossa ação como pesquisadores, educadores e cidadãos.
Então, o Projeto Cultivaeco nasce de um sonho e uma vontade de ocupar um espaço de extensão e pesquisa que dá voz a uma outra forma de se fazer agricultura, a agricultura sustentável. Ou seja, foi necessário unir a minha experiência na pesquisa e extensão na sustentabilidade e valorizar este tipo de agricultura, pois me vi em uma região agrícola com importantes demandas socioambientais que poderiam ser incluídas em ações de extensão.
Assim, trabalhamos com resultados de pesquisa e extensão de uma agricultura sustentável que valoriza as pessoas e o planeta e, no nosso trabalho, trazemos dados científicos a respeito de uma prática sustentável de manejo agrícola que beneficia a qualidade de vida, a biodiversidade e a segurança alimentar.
Aqueles que são da agricultura convencional têm com o nosso projeto, uma oportunidade de conhecer que o manejo sustentável traz ganhos para todos, produtores, consumidores e planeta, entre inúmeras outras ações em prol da sustentabilidade na agricultura. Enfim, nosso projeto defende que a prática da agricultura sustentável tem alicerces científicos e valoriza o conhecimento e a experiência de cada pessoa e por isso, sempre buscamos uma harmonia e diálogo, que até aqui tem dado certo!
LM: Quais são as principais atividades e áreas de atuação integradas no projeto Cultivaeco?
AM: Desde 2009, o Projeto Cultivaeco objetiva possibilitar que os alunos do ensino fundamental aprendam sobre a importância da Segurança Alimentar dada em uma produção agrícola sustentável, geradora de interações harmoniosas entre o ser humano, a fauna, a flora e o uso de recursos naturais nos agroecossistemas. Desde esta época, atendemos em média 1000 alunos do Ensino Básico, além de já passarem pela experiência cerca de 150 universitários.
No início de sua participação no Projeto Cultivaeco, a maioria das crianças desconhece a origem de alimentos de seu cotidiano (como arroz, feijão, soja, milho, açúcar, laranja, amendoim, trigo, leite e derivados, por exemplo) e imagina que estes produtos venham das gôndolas dos supermercados. Assim, acreditamos que seja fundamental um projeto de extensão sobre a origem dos alimentos, sustentabilidade e Segurança Alimentar destinado a crianças inseridas em uma região agrícola, como é o caso de Jaboticabal.
A fim de demonstrarmos a interação entre a agricultura e a natureza na origem e produção de alimentos do cotidiano, são empregadas atividades educativas dinâmicas e ludopedagógicas. Desenvolvemos uma linguagem didática, lúdica e acessível ao público-alvo, havendo assim uma maior interação entre os participantes e maior aprendizagem.
As atividades de arte-educação (dinâmicas, músicas, desenhos, contação de histórias, teatro, jogos, gincanas, por exemplo) se dão na escola ou na visita ao campus (Horto Florestal, Fazenda Experimental, Horta e Bovinocultura Leiteira). Realizamos avaliações constantes, ao longo da aplicação das atividades educativas e constatamos que todas as crianças participantes aprendem sobre a importância da agricultura e da sustentabilidade na produção dos alimentos e Segurança Alimentar.
O instagram do Projeto Cutivaeco, com cerca de 4000 seguidores, tem sido fundamental para a divulgação do trabalho. Nesta rede social, apresentamos conteúdo de divulgação científica sobre sustentabilidade e também embasamos nossa atuação na Agenda 2030, como referencial, além de criar um link entre cada uma das atividades e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
LM: Como as atividades realizadas influenciam tanto na disseminação de práticas sustentáveis e conscientes ao público, quanto na formação dos estudantes que participam do projeto?
AM: Quando os universitários participantes do Projeto Cultivaeco entram em contato com as crianças das escolas que atendemos, se estabelece a magia da Educação e da Esperança, pois estes universitários têm contato com a realidade e podem colocar em prática aquilo que aprendem na sala de aula.
Assumimos como metodologia uma participação ativa das crianças e uso de atividades ludopedagógicas, minimizando aulas expositivas e priorizando metodologias ativas. Com isso, as crianças sempre têm perguntas surpreendentes, são espontâneas e criam um vínculo com a equipe.
A extensão tem como um dos seus combustíveis uma educação com afeto, amor e esperança e cada um de nós, da universidade ou das escolas, podemos vivenciar isso. Há inúmeros desafios, mas este tipo de experiência é motivadora e nos faz superá-los. Vários estudantes começam a sua participação no Projeto Cultivaeco nos semestres iniciais e terminam ao se formar. Há inúmeros egressos que aplicam a aprendizagem com a experiência do projeto em seus cursos de pós-graduação ou no mercado de trabalho.
Para as escolas participantes, tem sido muito importante a divulgação da Unesp como universidade gratuita, pois ao visitarem o campus e ao terem contato com a equipe podemos fazer esta divulgação. As crianças têm aprendido sobre a origem dos alimentos na natureza e na agricultura, o que é importante por pertencerem à uma região agrícola. Procuramos incentivar nas crianças o sentimento de que elas podem, de forma simples, ser pessoas que contribuem no seu dia a dia para a sustentabilidade.
Dessa maneira, a atividade extensionista atua na formação educacional das crianças do município de Jaboticabal, desenvolvendo um senso de importância sobre a Agricultura Sustentável e o Meio Ambiente. O projeto Cultivaeco é mais um exemplo da atuação direta das Universidades Públicas com a sociedade, influenciando diretamente na reflexão sobre esta região do estado, muitas vezes ligada às práticas da agricultura convencional, e ensinando os princípios da sustentabilidade e da segurança alimentar. Para saber mais sobre as ações realizadas pelo projeto, e até mesmo aprender sobre conceitos importantes relacionados com as temáticas propostas pelo mesmo, acompanhe-o nas redes sociais: https://www.instagram.com/cultivaeco/!