Formada em História pela Universidade de São Paulo, desde o segundo ano da graduação tinha vontade de trabalhar com os museus, com acervos, com exposições, mas ainda era uma ideia embrionária. Encantada por coleções de pinturas e esculturas, bem como mobiliário e outras manifestações da cultura material do homem, encontrou, em 1996, nas narrativas dos moradores das comunidades populares do Recife e Olinda, a história dos saberes e fazeres tradicionais, o que significava que um outro fazer museal era possível.
Mestre em Ciências da Comunicação (ECA-2002) e Especialista em Comunicação Estratégica de Mercado (Unesp -2015), seguiu a linha de Pesquisa Estudos em Comunicação para o Desenvolvimento da Universidade Lusófona do Porto, em Portugal.
1) Como é contar a história de tantas pessoas? O que você já aprendeu tendo contato com isso?
Foi trabalhando no Museu da Imagem e do Som, onde permaneci por quatro anos, que tive contato com a metodologia da história oral. Interessei-me pelas inúmeras possibilidades que as narrativas traziam, entre elas a de dialogar com a própria fonte de informação. Ao final do ano, conheci a historiadora Karen Worcman, que estava chegando do Rio de Janeiro com uma experiência incrível de coleta de narrativas de judeus imigrantes de RJ. Ela trouxe uma exposição desse trabalho e eu pude desenvolver a prática da entrevista porque ao longo do período da exposição, montamos um estúdio de gravação onde era possível o visitante deixar um retrato da sua história de vida. Era o início do Museu da Pessoa e eu já estava lá. E isso foi apaixonante!
De lá para cá já são quase trinta anos de atuação do Museu da Pessoa. Tive oportunidades únicas, entre elas a possibilidade de conhecer um Brasil: das ruínas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, às comunidades ribeirinhas do Rio Iratapuru, no Pará; das cidadelas que beiram o Rio Jequitinhonha à comunidades mais desassistidas, como favelas e ocupações.
2) Qual a importância da memória oral para o impacto social?
A questão da memória oral para o impacto social é algo que venho refletindo, principalmente por conta do doutorado que desenvolvo na Universidade Lusófona do Porto, no qual sou bolsista. Acredito que as narrativas e as memórias que elas organizam são uma poderosa possibilidade de dar visibilidade a grupos sociais que estão à margem da sociedade, e, que portanto são também os excluídos da história.
No final dos anos 80, tivemos em São Paulo, organizado pela Secretaria Municipal de Cultura um grande congresso onde discutiu-se o "direito à memória", uma ideia proposta pela filósofa Marilena Chauí.
As memórias, organizadas em histórias lineares ou não, possibilitam o encontro com o outro, nos conectam rumo a um conhecimento nunca antes sistematizado, com a sabedoria popular e com o saber fazer. Na minha opinião o trabalho com a memória oral dá visibilidade para diferentes grupos sociais, em especial as minorias, tangibiliza causas e pautas da atualidade tais como a questão ambiental, o trabalho escravo contemporâneo, a intolerância religiosa e a geração de trabalho e renda.
3) Qual é o seu legado na sua experiência profissional pensando em todos os lugares por onde você já passou?
Falar de legado é algo que talvez deva ser pensado a posteriori. O que posso acreditar, é o quanto eu contribui para a construção de uma sociedade mais justa e plural na medida em que ajudei centenas de pessoas a narrar a sua própria história, compreendendo essa pessoa em toda a sua amplitude de visão de mundo, de escolhas, de trilhas e de aprendizados.
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